quarta-feira, 8 de junho de 2011

Redondamente falando (esteticamente utópico)

Nem para inglês ver!

Numa localidade que se preze, as tendências estéticas causam um impacto bastante agradável a quem passa, dando um grande prazer no que toca ao sentido visual.
Do meu ponto de vista, quando visito algum local, seja ele acidentalmente (quando o nosso sentido de orientação nos passa uma rasteira) ou para a prática do ócio, tenho uma enorme consideração pelos valores estéticos por parte de quem gere essa localidade, principalmente no que toca a uma gestão de recursos sustentável, simples e eficaz, pois quando se trata de coisas bonitas de se ver, torna-se num enorme cartão-de-visita. Seja ele rotunda, placa triangular ou jardim, gerando certamente a vontade de lá voltar.
Existem até algumas expressões na gíria portuguesa que definem este tipo de tendências estéticas, tais como, “isto foi feito, mas é para inglês ver!”, mas o que é certo é que foi feito com algum objectivo, o inglês contemplou, gostou e certamente voltou. Grave é quando é feito nem para inglês, nem português ver.
É o que se sucede numa pequena terra que conheço e que até sou natural, onde aparentemente o conceito de estética encontra-se de costas voltado com a autarquia, pelo menos quando se refere à Freguesia de Famalicão da Nazaré.
Será que este conceito se resume só a fogos de artifício no dia 1 de Janeiro, ou às serpentinas e corsos carnavalescos. Talvez, mas o que é certo é que não vivemos única e exclusivamente disso.
Custa-me a querer que uma autarquia não tenha jardineiros, trolhas, pedreiros canalizadores e todo esse pessoal especializado suficiente, para a manutenção de um concelho que é de todos, tornando-o mais atractivo nem que seja, só para inglês ver principalmente quando vive praticamente do sector turístico.
Existe uma rotunda em Famalicão que está à espera acerca de 5 anos de alguém com alguma noção de estética, para dar nas vistas e contribuir como cartão-de-visita para esta freguesia
Por vezes leva-me a querer que estou no meio de uma guerra política, que só me faz lembrar Sérvia e Montenegro ou até Faixa de Gaza onde existem bastantes idiotas, mas atitude pouca ou nenhuma.

Ivo Batista 4-6-2011

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Encostei-me para trás na cadeira do convés - Fernando Pessoa

Encostei-me para trás na cadeira de convés e fechei os olhos,
E o meu destino apareceu-me na alma como um precipício.
A minha vida passada misturou-se com a futura,
E houve no meio um ruído do salão de fumo,
Onde, aos meus ouvidos, acabara a partida de xadrez.

Ah, balouçado
Na sensação das ondas,
Ah, embalado
Na ideia tão confortável de hoje ainda não ser amanhã,
De pelo menos neste momento não ter responsabilidades nenhumas,

De não ter personalidade propriamente, mas sentir-me ali,
Em cima da cadeira como um livro que a sueca ali deixasse.

Ah, afundado
Num torpor da imaginação, sem dúvida um pouco sono,
Irrequieto tão sossegadamente,
Tão análogo de repente à criança que fui outrora
Quando brincava na quinta e não sabia álgebra,
Nem as outras álgebras com x e y's de sentimento.

Ah, todo eu anseio
Por esse momento sem importância nenhuma
Na minha vida,
Ah, todo eu anseio por esse momento, como por outros análogos —

Aqueles momentos em que não tive importância nenhuma,
Aqueles em que compreendi todo o vácuo da existência sem
inteligência para o
Compreender
E havia luar e mar e a solidão, ó Álvaro.

quinta-feira, 31 de março de 2011

O enfarte de Camões (a morte do artista)


Sem quês nem porquês!

A literatura e língua portuguesa são sem dúvida um ícone da história mundial.
Com cerca de 2 mil anos, falada por aproximadamente 240 milhões de pessoas e sendo língua oficial em 10 países este idioma espalhou-se pelo mundo entre os séculos XV e XVI durante a época dos Descobrimentos.

Na actual sociedade assiste-se, desde Maio de 2009, a uma estranha mudança proclamada de acordo ortográfico levando-nos a questionar a nossa posição geográfica. Isto é, será que nos deslocamos assim tanto do velho continente que ao darmos por ela já nos encontrávamos na América do Sul? Sim! Talvez causado pelo movimento de placas tectónicas, inspirado nessa grande obra literária portuguesa do século XX intitulada por, A Jangada de Pedra de José Saramago, que por ventura um dos últimos portugueses a elevar o nome de Portugal ao mais alto nível, ao trazer o Prémio Nobel da Literatura para terras de CAMÕES, PESSOA, VERDE ou BOCAGE.

Cada vez que vejo as notícias em rodapé, que leio um artigo num jornal ou revista, sinto que moro naquele local paradisíaco em que o sol aperta todos os dias, em que os cocos caiem do céu, quando nos encontramos à beira mar e tropeçamos em padrões dos descobrimentos portugueses cada vez que damos um passo, onde as pessoas vão sendo e vão fazendo.

A língua portuguesa é a língua portuguesa!
Devemo-nos preocupar com sustentabilidade de recursos, com desenvolvimento cultural e etnográfico e não com novo acordo ortográfico, com estórias, fatos ou atos, disso estamos nós fartos. Devemos cimentar a economia e revisitar o que já fomos num passado distante da história de Portugal, sem guerras nem inquisições, sem distúrbios, manifestações nem a subida ao poder das religiões.
Não vamos então matar esse grandioso lusitano conhecido por milhões, que será sempre evocado e aclamado por, Luís Vaz de Camões.

Este pequeno artigo é uma ideologia, nada de xenofobia, nacionalismo ou racismo. É só uma questão de defesa de património e orgulho em ser português.

Ivo Batista 31/3/2011

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A 1ª "Expedição"


Baseado num estudo de Eduíno Borges Garcia, no dia 11 de Abril de 2010 resolvi realizar um longo passeio, na companhia de alguns amigos pelas zonas mais remotas da Freguesia de Famalicão, com o intuíto de observar a localização de algumas pistas acerca da existência de uma aldeia do Neolítico referida pelo autor.

Claro que sem o acompanhamento de técnicos especializados, sabiamos que não era à toa que iriamos realizar esse objectivo, mas por outro lado observámos indícios relativamente pertinentes ao que tudo apontam para a existência de uma comunidade da época do Neolítico, tais como, alguns artefactos (ferramentas) de pedra minuciosamente talhados pelo Homem, e baseando-nos em alguma fundamentação teórica referente a este assunto.

Este passeio tornou-se bastante enriquecedor porque fiquei a conhecer a famosa Fonte Galinha, uma fonte secular (ver imagem) local que até à data desconhecia.

Ainda nesta pequena expedição encontrámos as supostas entradas das míticas grutas de calcário que, segundo alguns habitantes locais, uma delas contém no seu interior algumas relíquias relacionadas com as invasões Francesas. Será? Porque são deixadas à margem questões e dúvidas como estas quando podem contribuír para o desenvolvimento local?

Por: Ivo Batista

Uma Mestiçagem Milenar



A história da Península Ibérica é, em todo o seu esplendor, confusa acabando mesmo por ser controversa desde a fixação peninsular do Império Romano à sua extinção.
É nos finais do século IV que é traçado o destino negro do imperialismo Romano com a usurpação de Arcádio (Constantino III), filho mais novo de Teodósio (Flavius Theodosius: Imperador Romano 379-395), que, após a morte de seu pai (no ano de 395 d.C.) passou a governar o Império Oriental.
Ao escolher as Ilha Britânicas para liderar a sua parcela do Império, Constantino III, aliou-se aos Bárbaros causando, assim, uma enorme controvérsia e grandes choques perante a sua família, já que seu irmão mais velho, Honório, governava o Império Ocidental, o qual não apoiava esta aliança entre Romanos e Bárbaros.
Constante, filho de Constantino III, através de ordens de seu pai e apoiado por um exército da Britânia e da Gália a comando do General Gerôncio, invade a Península governada por seu tio Honório.
Ao ver-se invadido, Honório cria um enorme exército composto por camponeses para combater a invasão provinda das Ilhas a norte de Hispânia e Lusitânia (Península Ibérica), mas apesar de uma grande resistência, acabou por perder a Península perante Constante.
Enquanto Constantino III e seu filho “saboreavam” a vitória sobre os seus familiares, Gerôncio, juntamente com Máximo, resolvem trair os seus antigos aliados com a ajuda dos Vândalos, Suevos e Alanos e alguns apoiantes de Honório. “Por razões que permanecem obscuras, Gerôncio parece ter provocado uma nova cisão no Ocidente, proclamando na Hispânia, com o título de «Augusto», um indivíduo de nome Máximo, que pertencia à sua clientela pessoal. O novo usurpador, revestido da púrpura imperial, fixou residência em Terraco, (Terragona) e, com o auxílio de Gerôncio, aprestou-se a resistir aos seus antigos aliados.” (Mattoso, 1997: pp. 265)

Como era de esperar Constante, como resposta, criou uma nova força militar, enquanto isso, Gerôncio, deixa entrar na Península Ibérica os povos bárbaros que se mantinham, até a esta data, a norte da formação montanhosa designada: Pirenéus.
“A reacção não se fez esperar. Constante, na Gália, reuniu novo exército para marchar sobre o usurpador da Hispânia. Gerôncio estabeleceu uma estranha aliança com os partidários do imperador legítimo, Honório, que ainda resistiam na Hispânia, e com alguns «bárbaros» dispersos por territórios de além-Pirenéus, a quem prometeu instalar na Península Ibérica. Deste modo, Vândalos, Suevos e Alanos entraram na Hispânia. Estes acontecimentos mostram que não é correcto considerar a entrada dos «bárbaros» na Península, devidamente pactuada, como uma invasão.” (Mattoso, 1997: pp. 265)
Gerôncio invade a Gália território onde actualmente se encontrava o Constantino III e seu filho Constante, no intuito de se render, o que acabou por ser em vão, levando-o a voltar para a Hispânia, onde se deparou com os seus aliados bárbaros a traí-lo, ao revoltarem-se contra ele, acabando por se suicidar. Os Bárbaros tinham-se instalado praticamente por toda a Península.
É precisamente este o ponto de viragem que contribuí para o instalar do caos na Administração Romana.
No início do século V o Imperialismo Romano entrou em declive na Península Ibérica através das constantes pressões exercidas por parte dos Bárbaros que, por sua vez, limitavam-se a ignorar e a controlar o Sistema Administrativo Imperial Romano.
Nesta fase da história surge de novo Honório que consegue tirar Máximo de cenário recorrendo à sua captura.
Devido à falta de alimentos, principalmente, o trigo cuja Hispânia e Lusitânia tinham em abundância, os Visigodos pretendiam entrar na Península Ibérica. De modo a estabelecerem a ordem e após um acordo com o Imperador ocidental, Honório, é-lhes permitida a entrada na Península a fim de se juntarem aos Romanos para combater os Vândalos, os Suevos e Alanos, acabando por derrotá-los. “De facto os Silingos e os Alanos devem ter sido completamente derrotados em campanhas que parecem ter durado uns dois anos.” (Mattoso, 1997: pp. 277, 278)

Quando tudo parecia realmente estabilizado, os Vândalos contra atacaram a Península Ibérica ao qual a aliança entre Romanos e Visigodos ripostam com a ajuda dos Suevos, fixados a norte da Lusitânia, actual Braga, acabando por vencer e expulsando de vez os Vândalos Asdingos.

Sendo por natureza de etnia Ariana os Visigodos entravam em constantes divergências culturais com os seus aliados Romanos, divergências estas que causaram alguma desordem política. Estas controvérsias decorreram até o início da segunda metade do século VI, época de desenvolvimento na Península Ibérica com a concretização de muitas relações inter-regionais e constantes intercâmbios de pessoas, objectos e ideologias, os visigodos tomaram a pose da Península Ibérica através de Leovigildo (um dos fundadores do Estado visigótico em Hispânia, controlando assim, a Península Ibérica e estabilizando a situação Político-económica a partir da cidade de Toledo) após a sua morte no ano de 586 sucedeu-lhe o seu filho, Recaredo, que se converteu ao Cristianismo em 587 abandonando, assim, a religião Ariana levando o Cristianismo à religião oficial da Hispânia visigótica.

Esta conversão levou à permissão de casamentos mistos entre visigodos e romanos da qual tiraram partido um avanço mais acentuado da cultura Goda.

Os Visigodos ocupavam a maior parte da Península Ibérica (Hispânia e Lusitânia), excepto o norte de Lusitânia (actual norte de Portugal) que era ocupado pelos Suevos, os únicos “sobreviventes” da época das Invasões já com o Império Romano totalmente extinto na Península.

Até perto dos finais do século VII, os Visigodos conquistaram, ainda, algumas partes da Lusitânia a norte, acima do rio Tagus, actual rio Tejo, incluindo a actual zona da Nazaré onde se encontra a famosa Igreja de São Gião encurtando, assim, o território dos Suevos.

No início do século VIII, o povo Visigótico peninsular encontra-se extremamente enfraquecido devido a colapsos no comércio, fome e pestes, não conseguindo, assim evitar a entrada, na Península Ibérica, dos Muçulmanos provenientes do Norte de África.

É, então, neste ponto de viragem de mais uma página da história da Península Ibérica, que se afirmam novos elementos estéticos, geográficos, políticos e económicos, aos quais se anexam novos conceitos agrícolas, culturais, técnicos, linguísticos e artísticos.
Esta cultura permaneceu bastante tempo por quase toda a Península Ibérica durante o início do século VIII até ao século XII.

A arquitectura é um verdadeiro simbolismo da aculturação entre Muçulmanos e Visigodos Cristãos, pois nela pode-se contemplar ambos os estilos arquitectónicos, principalmente em edifícios de culto, o caso da Igreja de São Gião.

A Igreja de São Gião está situada na Quinta de São Gião na Freguesia de Famalicão a 500 metros do Oceano Atlântico junto às dunas da zona costeira a Sul do porto de abrigo da Nazaré erguida entre o século VII e o século X, durante a época Romana Visigótica e Moçárabe.

É um dos edifícios de culto cristão mais antigos e em melhor estado de conservação da Península Ibérica.

In: "Igreja de São Gião, Um culto à beira mar" (Projecto de Investigação em Teoria e Prática em História Local e Regional, Ivo Batista)